terça-feira, 8 de setembro de 2015

Sentados no comboio Sintra-Atlântico, a caminho da Praia das Maçãs. Os quatro. 
O comboio começa a andar e a chiadeira dos travões - ferro com ferro - é ensurdecedora. Pequeno Vasco começa logo a chorar, a dizer que quer ir "embóia", mas com o embalar do trem, a coisa dá-se e ele aprecia as vistas e a brisa. 
A Clara gostou muito, o tempo todo de pé, a ver como funciona a máquina e a certificar-se que a mochila não cai comboio fora, ou que o pai segura bem o Vasco para, também ele, não galgar borda fora.
Na viagem de regresso, sempre ao colo do pai, pequeno Vasco vai sossegadinho e eu vejo nos olhinhos que há ali muito sono à mistura, para tanto sossego. 
E assim do nada, o meu piqueno diz: "Mamã, quinho», que é o mesmo que dizer que quer colinho. Eu pego-lhe, ele enrosca-se ao meu peito e nem cinco minutos depois está a dormir profundamente, apesar da chiadeira ensurdecedora dos travões.
Podem dizer o que quiserem, mas o colinho da mamã será sempre o colinho da mamã! 

sábado, 5 de setembro de 2015

A mim dói-me o coração, de cada vez que vislumbro o Aylan. Não consigo olhar de frente o seu pequeno corpo, nem tão pouco segurar as lágrimas. 
O Aylan tinha mais 1 ano do que o Vasco. O seu irmão Galip menos um do que a Clara. Olho para o Aylan, ali estendido enquanto o mar - e o resto do mundo - seguem o seu caminho, e vejo o Vasco, tantas vezes na mesma posição, deitado na sua cama, no seu quarto, num país que o deixa dormir sossegado todos os dias. 
A imagem do Aylan, do bebé Aylan, faz-me doer o coração. Faz-me sentir ingrata quando, no mesmo dia, perco as estribeiras porque o meu bebé não quer adormecer sozinho, e a única coisa que quer é sentir o seu 'porto seguro' do seu lado. O Aylan estava com o seu 'porto seguro', que não foi suficiente para que ele, e Galip, dormissem sossegados todas as noites. E eu sinto que aqueles meninos não mereciam isto. Nem eles, nem ninguém.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pessoas que vão para o facebook escrever «a sentir-se destroçada», «a sentir-se triste», «ai que isto agora é que está difícil»: Não contem comigo para vos perguntar: «então, 'miga? que foi? precisas de alguma coisa?»
Querem partilhar? Desembuchem de uma vez! Não querem, não digam nada. Agora cá merdas!

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Não sou pessoa de verbalizar objetivos. 
Não quer dizer que não os estabeleça, mas na grande maioria das vezes, não os verbalizo. Tenho plena consciência que o faço por não gostar de falhar. Com os outros, principalmente, porque para comigo já falhei objetivos por diversas vezes. Não gosto, mas acontece.
O facto de não os dizer, faz com que não existam, e eu não gosto de andar a espalhar por meio mundo que vou fazer isto ou aquilo e depois ver-me como um grande 'flop'. Quando quero mesmo, faço e pronto. Depois de feito, já está!
Mas para este mês que hoje se inicia (cá em casa trabalhamos ambos para a função pública por isso, se o nosso mês financeiro começa hoje, o nosso mês para objetivos também pode começar hoje) quero verbalizar dois objetivos: correr 50 km e ler um livro!
De 21 de agosto a 21 de setembro!
Vamos a isto, Jane Doe?
Vamos lá!


quarta-feira, 19 de agosto de 2015


Quando engravidei pela primeira vez, tive sempre a certeza que queria que o meu bebé nascesse de parto normal. Queria ser eu a protagonista daquele momento, e cheguei, inclusive, a pedir ao médico para me deixar puxar o bebé para fora, mas no momento certo, quando ele me disse «É agora, puxe!», não consegui.
Quando engravidei pela segunda vez, disse para mim vezes sem conta que desta vez é que era! E pedi ao meu homem para me dar dois estalos se eu dissesse novamente que não conseguia, e para me levantar as costas e segurar-me para que eu pudesse, enfim, realizar o meu desejo de puxar o meu bebé.
Quase no termo da gravidez do Vasco, soube que ele continuava sentado e que, por isso, o mais provável seria ter que fazer uma cesariana. Nunca coloquei, sequer, a hipótese de ter um parto normal com um bebé pélvico e, ainda que durante o tempo que me restou de gravidez me tenha custado muito aceitar que, desta vez, a protagonista não seria eu, fui-me mentalizando para a cesariana que veio a acontecer a 16 de julho.
O meu Vasco nasceu quando eu estava deitada, à espera que tudo acontecesse. E vi-o sair da minha barriga, a berrar a plenos pulmões - Típico! 
A cicatriz que tenho hoje lembra-me o momento mágico e único que aquele momento foi, e não faz de mim nem menos protagonista daquele momento, nem menos mãe.


Créditos da foto: 

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

E por falar em palavras feias…
Às vezes dou por mim a pensar que há alguma coisa que, nesta minha história da maternidade, bate certo.
Antes de entrar para o primeiro ano, a Clara conhecia uma ou duas palavras feias. Em casa, por norma, não dizemos. O homem não tem por hábito soltar uns palavrões e a mim de vez em quando salta-se-me um ‘fuck’ (assim mesmo, em inglês) ou um ‘merda’. Mas sempre nas costas da criançada.
Aqui há uns tempos, estávamos as duas sentadas no sofá da sala. Eu a ver televisão, ela a jogar tablet. E assim, do nada, sai-se com uma dúvida:
“Mamã, foda-se é uma asneira?” – Assim mesmo, sem me preparar minimamente e sem nenhum pudor. Afinal, aquela era uma palavra normal até então.
Perante a minha cara e os meus sons de pânico - que acompanhei com um “É uma asneira daquelas bem grandes e feias e nunca mais deves dizer essa palavra!” – desatou a chorar.
“Eu não sabia”, chorava ela. “Por isso é que te perguntei!”. E eu, lá acalmei a minha reação e expliquei-lhe que o que ela fez foi o mais correto, ou seja, perguntar-me assim em privado, e fazê-lo sempre que tenha alguma dúvida.
Nos entretantos, foi-me perguntando por uma ou outra palavra que ouvia no recreio, e eu fui-lhe dizendo quais eram as outras, aquelas mesmo feias, que não devemos dizer.
Num destes dias de férias, estávamos os quatro sentados a lanchar, quando se falou nos puns do papá (sim, à mesa!) e ele respondeu: “Sabes? Isto vai dar merda!” Eu ri, ele riu, e quando demos conta, ela chorava desalmadamente, enquanto dizia: “Eu não gosto de pais mal-educados!”

Moral da história: o tio diz palavrões daqueles bem feios, alto e bom som, e ela nem pestaneja! O pai (ou a mãe, há uns dias) dizem ‘merda’ e começa o dilúvio. Ainda não percebi muito bem o alcance destas reações, mas por enquanto, deixam-me orgulhosa.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Um dia chegas à conclusão que não vais conseguir sozinha. Que aquilo que sentes, e que não entendes muito bem, não vai passar em dois ou três dias como seria bom. Que precisas de ajuda para ultrapassar, mas principalmente para compreender o que se passa contigo e com essa tua cabeça. E dás contigo a chorar desalmadamente em frente à médica de família e a sair de lá com uma receita de ansiolíticos, "só para se sentir um pouco melhor". 
E esperas 3 dias para aviar a receita - tu, que sempre foste anti-comprimidos - e percebes que não é aquilo que te vai ajudar.
Desabafas com quem compreende um pouco o que sentes, e que te aconselha a tratar a causa e não os sintomas, disso que te faz sentir como te sentes - triste, sem paciência, sem vontade para nada.
E dás por ti a marcar uma consulta numa psicóloga. E vais. E choras ainda antes de entrar. E choras o tempo todo lá dentro. E percebes um pouco, apenas com esta consulta, o que se passa contigo.
E é nesse dia, nesse momento, que entendes que pedir ajuda não é um ato de fraqueza. 
É um ato de coragem.
E um dia queres voltar e já não te lembras da password. E tentas aquelas duas que são as prediletas, e que dão sempre para tudo mas não dão para aqui. 
E voltas a tentar. E nada. 
E chamas nomes ao computador e à merda-que-é-esta-porcaria que está a dar erro por tudo e por nada e resolves seguir os passos da ajuda. E segues, mas isto é tão irritante que quando te pedem uma nova password, depois de teres inserido aquelas duas e de ter aparecido a mensagem que têm que ser passwords novinhas-em-folha-nunca-antes-utilizadas, acabas por soltar uma grande palavra feia ao mesmo tempo que a escreves e pimba: password aceite!
Agora é lembrar sempre a mesma palavra feia e escrevê-la aqui, conjugada com os outros caracteres. 
Palpita-me que, da próxima vez, a palavra escrita será lembrada, mas os restantes caracteres não. E aí a palavra será dita também!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

E os meses passam, as semanas correm e um dia uma amiga pergunta: "então e desististe do teu blog?" e eu penso que não, que adoro escrever, que tenho tantas coisas que gosto de contar e que me lembro tantas vezes de cá vir e nunca venho. E penso a seguir que se calhar está na hora de mudar isso e escrever mais, e correr mais e esperar que um dia consiga, finalmente, correr ao lado dele. De língua de fora, certamente, e abaixo do ritmo dele, mas lado a lado, sem que ele se sinta uma pequena tartaruga.